Friday, December 01, 2006
Um Cromo com Aranhas no Cérebro
Trabalhei num jornal com um sub-editor de apenas 22 anos. Quem trabalha no meio da Comunicação Social sabe que a situação não causa assim tanta estranheza, uma vez que cada vez mais se procuram jornalistas tendo em conta o seu preço e não a sua qualidade. [Não há muito tempo, propuseram-me o belo cargo de chefe de redacção de um pasquim por 450 euros mensais - e não, não estavam a gozar!!] Voltando à história, este cromo tinha sido "promovido" depois de ter feito um "estágio" de um ano a ganhar 250 euros mensais. No fundo, ele era um "estagiário sub-editor", nada mau para início de carreira. Mas enfim, eu estava ali como jornalista e tinha que respeitar o meu superior, até mesmo no dia em que ele me pediu para "investigar" uma notícia que poderia ser "bombástica". «Vou-te enviar o e-mail com a história, liga para o contacto que lá está e pede mais informações», disse ele. Quando comecei a ler o e-mail apercebi-me logo de que se tratava de um daqueles FW: inventados por quem não tem mais o que fazer... Uma temível aranha venenosa andava a matar em Portugal e já tinha feito algumas vítimas no Algarve! Disse-lhe: «Não achas que isto é um daqueles FW:....?». «Liga para o contacto que aí está!», respondeu do alto da sua autoridade. Liguei. Atendeu realmente a pessoa cujo contacto constava no e-mail, mas rapidamente esclareceu que aquele mail também lhe tinha sido enviado por alguém e que o seu número de telefone estava ali por acidente. Expliquei novamente ao meu sub-editor que aquela história, afinal, era mesmo um daqueles e-mails. Levantou-se rapidamente e avançou na minha direcção, folheando a sua agenda preenchida de importantes contactos: «Aponta aí!», ordenou. «Direcção-Geral de Saúde, 21....., e falas com a "não-sei-quantas" que é a assessora de Imprensa.» Eu nem queria acreditar no que me estava a acontecer, mas lá tive que ligar para a DGS. A assessora foi muito simpática, ouviu todas aquelas as idiotices e no final disse: «Sabe, isso é um daqueles e-mails que já circulam há anos...» Foi um momento bastante embaraçoso na minha (ainda curta) carreira de jornalista - não tão curta quanto a inteligência do sub-editor. Obviamente, esta não foi a única história inacreditável que se passou naquele jornal. Dois meses depois, despedi-me.
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